Então você está no seu home office, numa bela manhã de terça-feira, rendendo horrores num
texto que deveria ter entregue há duas semanas atrás, super feliz e hiperfocada
quando de repente plupe... aparece um pop up da Apple na tela do Macbook bloqueando todas as 500 janelas
abertas. Whats??? Você nem lê o que diz o aviso e tenta com toda a sua
fé e força se livrar daquilo ali: clica em ok, clica no fechar, tenta reiniciar
o computador... e nada. Imagine o desespero da pessoa!!! Na ânsia de voltar
ao meu texto (estava quase no fim... socorro...alguém me ajude...), foco no
aviso e leio algo assim: seu computador está sob sério risco, ligue para o
numero tal...
O que a pessoa fez? Pois é. Se eu conto isso
pro meu pai (mineiro), ele morre de desgosto. Eu mesmo não acredito que liguei.
Mas enfim, liguei. Na sequencia atende
um homem muito educado dizendo ser da Apple e pergunta no que poderia me
ajudar. Expliquei a ele o ocorrido e ele me pediu para: entrar numa suposta página da Apple,
inserir meu nome, código e instalar um “negocim” que lhe
daria acesso remoto ao meu computador. Assim ele poderia verificar o que estava acontecendo. Isso tudo em inglês. Isso tudo eu desesperada lembrando de que não
tinha backup completo. Isso tudo eu suando frio aguardando o valor do rombo que
iria me assaltar nos próximos minutos. Isso tudo eu tentando entender o que era
a bendita tecla do dash para entrar no endereço indicado.
Ao ter acesso ao meu computador (pulando da
ponte em 3,2...), ele me instruiu da seguinte maneira: fique em frente ao
computador e assista ao que vou fazer como se estivesse assistindo a tv. Oi?
E eu, como boa virginiana, contente por estar entendo o inglês do homem
educado, obedeci (como não era de costume).
O fato de eu estar assistindo ao que ele fazia me impedia de verificar
que a página da Apple, apesar de parecer real, era fake. Segundo ele, o
problema era o IP clonado. Alguém estava usando meu IP e tinha acesso a 50 %
dos meus dados. Acesso a tudo: senhas, email, conta de banco, etc. Desespero? Não,
é pão.. como dizia um amigo português.
Mesmo acreditando em tudo o que ele dizia,
falei: não sabia que a Apple dava esse tipo de aviso. Os computadores da Apple
não são o supra sumo da segurança? Meu Deus... até aqui nos Estados Unidos??? E
ele respondeu que a Apple faz isso quando 50% dos dados estão comprometidos.
Nem antes. Nem depois. E que isso não tinha nada que ver com a Apple e que
provavelmente teria acontecido porque abri algum e-mail suspeito e tinha sido
hackeada. Assim como nos sonhos, aquilo fez sentido na hora. Aff. Na sequencia
ele me mostrou várias “provas” do que estava falando.
Ah... esqueci de dizer. Ele tinha sotaque, me
pareceu indiano. E o nome era Sam. Sam do mal. O sotaque era bem disfarçado,
perceptível apenas no final de algumas palavras.
Mas minha gente, pera aí. Em minha defesa digo
que meu foco estava em entender o que ele dizia e saber o tamanho do rombo.
Lembrem-se que os arquivos de um computador tem o mesmo valor de um “braço”,
para um doutorando. Assim não me restavam neurônios para a malícia. Ah a
malícia... tão recomendada pelo meu pai. Oh gosh... caí que nem uma pata.
Enfim, depois das informações prestadas ele
pediu meu zip code (e claro, eu dei) e disse que existiam algumas lojas
indicadas para resolver meu problema. Ele escreveu na tela tudo o que ia
acontecer e o que eu tinha de verificar quando fosse prestado o serviço. Mas
nessa hora, nem antes, nem depois, tive um surto de lucidez e tirei uma foto do
que ele escrevia na tela (foto ao lado).
Ele disse ainda que eu tinha duas opções para resolver o problema: ir
até uma loja física no endereço fulano de tal, a 20 milhas da minha casa, ou acessar
o serviço on line. Segundo ele, a
primeira opção me custaria $300 e a segunda $250, por cerca de 2 ou 3 horas.
Não, mas pera aí... aí também não, né. Tava sentindo
cheiro de que teria de informar os dados do meu cartão para ter meu “braço” de
volta. Nã nã ni nã não. Moro em Gainesville, em frente ao Butler Plaza, um
complexo cheio de lojas de serviço e assistência técnica e só tem uma loja
indicada pela Apple a 20 milhas daqui??? Acho que a lucidez me acometeu novamente (meu pai se orgulharia de mim nessa hora).
Agradeci a ele pelas informações e disse que
buscaria uma segunda opinião. Ele ficou meio nervoso, um pouco sem paciência mas disse que tudo bem. Como última tentativa para me convencer disse que quando eu ligasse novamente para pedir
o serviço eles me cobrariam $50 pelo diagnóstico que ele havia feito naquela
hora. Então eu pensei: é melhor eu pagar $50 a mais e ter certeza de que é isso
mesmo. Quando ele viu que desse mato não sairia coelho, começou a apagar as
coisas que tinha escrito na tela rapidamente. E eu achei estranho. Desliguei o
computador muito rapidamente. Fiquei estática. Paralisada. Poxa vida! Eu só
queria terminar meu texto. AFFFF. Pensei... pensei... liguei para o psor
Dernival.
Psor Dernival me aconselhou a ir no Hub (centro
de apoio a assuntos de informática da Universidade da Florida) para pedir orientação. Dernival e Harley
me acompanharam gentilmente. Dernival até pagou café pra gente, né Harley. Lá
no Hub a atendente ouviu, estranhou, coçou a cabeça mas não arriscou falar
nada. Disse pra eu procurar orientação no centro de apoio da Apple, no Reitz
Union, da UF. E lá fui eu. Quando mostrei a eles as orientações do Sam do mal e a página da Apple que eu entrei, eles rapidamente notaram que a página
era fake e que se tratava de golpe. Sugeriram que eu reformatasse o computador.
E que isso me custaria $29. Pensei comigo... tá melhorando esse negócio.. hehe.
Primeira coisa que fiz? Preocupada com o quanto de informações minhas eles teriam tido acesso, liguei para o bb Américas. Por lá estava ok, conta
intacta. Meio desorientada sai de lá, achei um banquinho e sentei. Pensei.
Liguei. Como é bom ter amigos, né.
Liguei para o amigo de uma amiga. O santo Sam
(o Sam do bem). Assim como (talvez) o Sam do mal (o do golpe), Sam é indiano. E
isso foi motivo de brincadeira entre nós. Sam fez mestrado em engenharia da
computação na UF e se interessou pelo caso. A medida que eu ia contando os
detalhes do ocorrido ele ia suando frio e arrepiando os cabelos. E eu, tentando
entender, tentando falar, só queria saber o seguinte: qual o tamanho do
rombo??? Corro o risco de perder meus arquivos???? Por que, meu Deus, eu não
fiz o bendito backup????
No fim das contas, deu tudo certo. Sam (do
bem) me orientou a mudar todas as senhas e me disse que o fato de eu ter
desligado o computador na hora impossibilitou o Sam (do mal) de ter acesso a
qualquer coisa. Pelo menos é o que esperamos. Eu mudei todas as minhas senhas,
passamos antivírus e apagamos todos os arquivos suspeitos. E o mais importante,
eu não dei os dados do cartão. Segundo o Sam do bem, era o que ele mais queria.
In the end... o saldo do dia era: um grande alívio e sentimento de gratidão. Lá se tinha ido apenas um dia inteiro de trabalho. E
nem um centavo a mais.
Quando sento no sofá para tomar um ar,
mensagem do meu irmão... “perdi o vôo de Miami para Orlando”. Mas isso é uma
outra história....
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